Usar muito o ChatGPT prejudica o nosso cérebro? Pesquisa mostra que possivelmente sim

O uso frequente de soluções de inteligência artificial generativa como o ChatGPT para a produção de textos pode afetar o aprendizado ao longo do tempo. É o que aponta um estudo não revisado, feito por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, divulgado no último dia 10 de junho.

Investigando o potencial impacto dos modelos de linguagem nas habilidades de aprendizado, os pesquisadores recrutaram 54 voluntários entre 18 e 39 anos e os dividiram em três grupos. Os que estavam no primeiro deviam escrever redações com o auxílio do ChatGPT, enquanto os do segundo usavam buscadores e os do terceiro não tinham acesso a nenhum recurso tecnológico.

Leia também: Pesquisa revela que usuários ‘hardcore’ do ChatGPT estão se tornando emocionalmente dependentesNo experimento, os voluntários precisavam escrever redações com e sem o auxílio da tecnologia. (Imagem: Getty Images)

O ChatGPT prejudica o aprendizado?

Durante as três sessões de escrita realizadas ao longo de quatro meses, em que todos recebiam as mesmas tarefas, os participantes eram monitorados por meio de eletroencefalograma (EEG), tendo seus níveis de engajamento cerebral e carga cognitiva medidos. Os resultados foram bastante diferentes entre eles.

Segundo a pesquisa, as pessoas que tinham acesso ao ChatGPT o utilizaram para fazer perguntas que ajudassem na redação, inicialmente;Mas com o passar do tempo, esses voluntários tendiam a deixar quase todo o trabalho por conta da IA, fornecendo os comandos necessários para a criação do texto e o copiando;Quem usou o bot da OpenAI também apresentou baixo engajamento cerebral e teve algumas de suas redações avaliadas como “sem alma” por professores que as corrigiram;Já as pessoas que não contaram com nenhuma tecnologia apresentaram a maior conectividade neural, com destaque para a atividade cerebral nas áreas ligadas à criatividade, processamento semântico e memória;Esse grupo se mostrou mais engajado, curioso e satisfeito com o texto produzido;Os voluntários que acessaram o Google também apresentaram um bom desempenho cognitivo, porém em menor intensidade do que quem usou apenas o cérebro.

O estudo teve, ainda, uma quarta sessão envolvendo a troca de papéis, com aqueles que usaram o ChatGPT passando a não ter nenhum auxílio e vice-versa. Mesmo assim, o grupo originalmente envolvido com a IA continuou a ter um baixo desempenho.

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De acordo com os autores, isso significa que o uso prolongado da tecnologia fez os voluntários acumularem uma “dívida cognitiva”. Ao terem a chance de usar seus cérebros, ao final, eles não conseguiram repetir a performance alcançada pelos outros dois grupos.

O ChatGPT deve ser usado com moderação, segundo a pesquisa. (Imagem: ChatGPT/Reprodução)

Mais jovens têm maior propensão a serem afetados

Segundo a autora principal do estudo, Nataliya Kosmyna, os usuários mais jovens e que fazem uso prolongado da IA generativa são as pessoas mais propensas a terem o processo de escrita afetado. Por causa disso, ela decidiu divulgar os resultados mesmo antes da revisão do artigo.

“Cérebros em desenvolvimento correm o maior risco”, apontou a especialista do MIT, que se mostrou preocupada com a possibilidade de uso dos chatbots inteligentes na educação infantil. Em abril, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva para incorporar a tecnologia às salas de aula do país.

Quem pensa de maneira semelhante é o psiquiatra Zishan Khan, que trata de crianças e adolescentes. De acordo com ele, esses públicos estão muito dependentes da IA para concluírem seus trabalhos escolares, o que pode ter consequências psicológicas e cognitivas.

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“Essas conexões neurais que ajudam você a acessar informações, a memória de fatos e a capacidade de ser resiliente: tudo isso vai enfraquecer”, comentou Khan, em entrevista à Time. Apesar das descobertas, os autores do estudo afirmam serem necessários mais testes para uma conclusão mais adequada.

E você, tem o costume de usar o ChatGPT e outras IAs generativas com frequência para auxiliar na produção de textos? Comente nas redes sociais do TecMundo.

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