Death Stranding 2 é a obra-prima mais autêntica de Kojima, mas também a mais estranha – Review

Em 2019, após anos de espera e trailers enigmáticos, os donos de PlayStation 4 finalmente puderam jogar Death Stranding. Primeira obra independente de Hideo Kojima, agora em seu próprio estúdio e com apoio da Sony, o título apostou em tom épico para contar uma narrativa complexa de ficção científica. Na trama, sem muitas cerimônias, os jogadores são ambientados em uma distopia pós-apocalíptica, com cenários desolados e a humanidade à beira da extinção. Tudo isso graças a criaturas fantasmagóricas e cataclismas sobrenaturais.
Nesse cenário, aparentemente condenado, a esperança recai em heróis anônimos e improváveis — os entregadores. Sem armas eficazes contra as tais ameaças, homens e mulheres se arriscavam para garantir o fornecimento de comida, remédios e quaisquer outros recursos que os sobreviventes precisassem. E esse era justamente o papel que os jogadores deveriam assumir: reconectar a sociedade através de pequenas, mas importantes, entregas.
Se hoje a premissa parece interessante, saiba que, durante o lançamento de Death Stranding, as coisas soavam bem diferentes. O jogo foi amplamente criticado, com avaliações citando uma jogabilidade entediante e com pouco propósito — além de ideias supostamente “prepotentes”, segundo alguns veículos especializados. E, ao longo dos meses seguintes, o novo título experimental de Hideo Kojima seguiu propondo uma discussão retórica, que não parecia conversar bem com o grande público da PlayStation.
Death Stranding 1 teve uma estreia um tanto divisiva.
No entanto, em março de 2020, a pandemia de covid-19 forçou à sociedade ao isolamento — e, de repente, a mensagem de Death Stranding ganhou um novo significado. Antes retórica, a discussão levantada por Kojima ganhou ainda mais força quando o título estreou no PC, em junho, durante um dos períodos mais delicados da crise sanitária. Naquele momento, assim como no jogo, a humanidade necessitava de conexões, conversas e da experiência de ver o mundo com os próprios olhos.
Pouco depois, a sociedade encara uma nova onda de violência, com guerras e atentados se iniciando todos os dias. Apesar das semelhanças com o mundo real, esse é o contexto de Death Stranding 2: On The Beach, uma sequência cuja premissa indaga: deveríamos ter nos conectado? Na review a seguir, investigaremos se o novo jogo de Hideo Kojima justifica sua existência como obra, sua mensagem e seus temas.
Como de costume, fique tranquilo: o material a seguir está livre de spoilers. O texto não abordará eventos específicos no jogo, mas tratará de seus temas e mensagens, além de quesitos mais técnicos de gameplay e apresentação. Além disso, também vale lembrar que a análise e sua pontuação somente se refere ao quanto à obra cumpriu sua proposta, segundo nossa percepção. Ou seja, se fosse um filme do Tarantino, não reclamaríamos da violência e do sangue em excesso.
A análise é baseada em cerca de 50 horas de gameplay na dificuldade “Brutal”, a maior disponível. Além de finalizar a campanha, também concluí mais de 53 missões adicionais com rank máximo “SSS”. Todas as capturas foram realizadas em um PlayStation 5 Slim, com modo gráfico “Priorizar Qualidade”.
Aqueles que se foram
Antes de prosseguirmos para a análise de Death Stranding 2, é importante recapitular brevemente os principais temas do primeiro jogo. Não apenas para refrescar a memória, mas porque também são importantes para a sequência. Certamente, há conceitos e eventos demais para detalharmos com o devido cuidado e, por esse motivo, publicaremos uma retrospectiva completa da história até esse novo capítulo.
Com o apoio de uma camada complexa de ficção científica, a trama de Death Stranding propõe a discussão de tópicos, sobretudo, filosóficos. Para isso, Kojima incorpora uma mistura de elementos: um pouco de religião, referências de autores renomados, e até parte do folclore egípcio. Por exemplo, para estabelecer as fundações da premissa, ele utiliza o trecho final do texto “A Corda”, de Kobo Abe, que também aparece na abertura da campanha. A citação afirma que as cordas e os bastões foram os primeiros amigos da humanidade – servindo para aproximar o bem e para repelir o mal, respectivamente.
Enquanto na obra original de Abe este conceito é subvertido de uma maneira um tanto sombria, com a corda cumprindo um propósito letal frente à ineficácia dos bastões, Death Stranding foca apenas na dualidade de sua natureza. A sociedade que busca se reconstruir é representada por cordas e nós; os separatistas e demais inimigos são os bastões – inerentemente ligados ao medo e à violência.
Porém, assim como em seus trabalhos anteriores, Kojima vai além, e expande esse conceito para novas aplicações – que, a princípio, podem soar bem estranhas. Por exemplo, a natureza de conexão estabelecida pela “Corda” assume um significado extra, em nível físico e espiritual, quando utilizada para retratar o vínculo de uma mãe gestante com seu bebê, através do cordão umbilical. Essa conexão, entre um ser vivo e outro que ainda não nasceu, é também ressignificada como uma ponte entre o mundo físico e sobrenatural.
Não somente por isso, as mulheres gestantes de Death Stranding possuem uma importância distinta, e são representadas de uma maneira bastante sensível por Kojima. Em uma perspectiva social, assim como no filme “Filhos da Esperança” (2006) , elas são as portadoras do futuro da humanidade, carregando consigo os alicerces da nova geração. Ademais, o cuidado de Hideo nessa apresentação também reflete seus próprios sentimentos.
Em uma entrevista à Vulture, em 2020, Hideo comenta que não contou à sua mãe sobre seus planos para Death Stranding, por medo de causar preocupações, decidindo esperar até que ele alcançasse certo sucesso. Na época, o jogo era uma grande aposta da Kojima Productions, algo bem distante do sucesso da série Metal Gear. Contudo, ela veio a falecer ainda durante a fase de desenvolvimento, em 2017. Adiante, arrependido, ele cita os fantasmas do jogo: “talvez meus pais sejam um deles, me vendo neste mundo”.
Portanto, para Kojima, a relação entre a vida e a morte deveria ser diferente em Death Stranding. “Eu queria ter esse tipo de metáfora, que dentro de você, você está conectado às pessoas que faleceram,” explica. Em 2025, falando à GQ Magazine, ele reforça esta ideia, afirmando que os japoneses e mexicanos, culturalmente, pedem forças aos entes queridos que se foram em momentos de dificuldade.
Mesmo sem jogar Death Stranding, é possível perceber uma atmosfera densa em sua ambientação, com pouco espaço para esperança. A percepção coletiva de luto, ainda que ressignificado, é importante para entender as motivações de cada personagem – já que, sem exceções, todos perderam algo. Da paleta de cores às pontuais músicas escolhidas, Kojima cria um universo solitário, que convida a se perguntar como é a vida após a morte, enquanto reflete sobre os que sobrevivem e ficam para trás.
Por esse motivo, boa parte da jornada também parece sobre as descobertas de uma dimensão desconhecida, além da vida natural e cheio de ameaças fantasmagóricas. Ao focar nesse aspecto, a narrativa garante ao jogador mais significado em cada tarefa, já que ele está contribuindo diretamente para a reconstrução da sociedade. Inevitavelmente, essa decisão também redireciona os holofotes para os mistérios do “Mundo dos Mortos”, mesmo em detrimento das consequências para os personagens ainda vivos.
No entanto, no papel do protagonista Sam Bridges, os jogadores descobrem que podem fazer a diferença, mesmo com gestos pequenos. Aos poucos, Kojima relembra que a humanidade sempre dará um jeito de perseverar, ainda que diante do aparente impossível. Embora o luto seja um fio condutor importante para a narrativa, ele sempre é acompanhado de lembretes sobre o valor das conexões, da esperança e da colaboração.
O peso dessa mensagem ganha força durante a campanha, tanto nos elementos de colaboração entre jogadores quanto na narrativa. Death Stranding ressignifica o valor das conexões, dos elos formados pelas interações, sem pedir nada em troca. O sistema de pontuação, desta vez, representa apenas uma coisa – gratidão. Na verdade, todos os itens desbloqueáveis no jogo são obtidos desta maneira: Sam resolve uma tarefa na região e através desse progresso é possível fabricar algo novo. Nenhuma boa ação passará despercebida!
Por outro lado, apesar de passarmos muitas horas na companhia de Sam e seu BB-28, carinhosamente batizada de Lou, pouco conhecemos sobre seu passado e seus sentimentos. Certamente, ele é alvo da história, e peça principal na relação com vários dos personagens. No entanto, além de descobrir a sua história de origem, pouco ouvimos sobre seus comentários ou sentimentos.
Além de reforçar o tema de afefobia, o medo de toque sentido por Sam, essa distância emocional também o enquadra em um personagem semi-mudo – como Link, da série The Legend of Zelda, ou Isaac Clark em Dead Space. Esse artifício narrativo convida os jogadores a imergir na narrativa, se colocando no lugar do protagonista. Sobre isso, Kojima comenta à Vulture: “Eu queria que o jogador se tornasse Sam, mas gradualmente,” explica, “como um bebê aprendendo a andar”.
Ao final da campanha, vemos um protagonista mais maduro, diante de um mundo com novas possibilidades de recomeço. Por esse motivo, muitos jogadores não acreditavam em uma sequência ou, sequer, na necessidade dela. Contudo, Kojima já estava com o roteiro para Death Stranding 2 pronto antes da pandemia, mas decidiu mudá-lo. “Simplesmente reescrevi tudo do zero,” explicou no palco do The Game Awards 2022, “eu também não queria prever mais nada para o futuro, então o reescrevi”.
Na trama de On The Beach, meses após o fim de Death Stranding, Sam e Lou estão vivendo como fugitivos em uma região isolada ao sul dos Estados Unidos. Contudo, eles são atacados por um misterioso grupo e, assim, devem embarcar em uma nova jornada liderada por Fragile – agora capitã de uma enorme nave. Graças ao veículo, os jogadores também conhecerão dois novos países, México e Austrália, as próximas regiões a serem conectadas à rede quiral.
Aqueles que ficaram
Se Death Stranding é sobre aqueles que se foram, em uma narrativa que busca compreender a “vida após a morte”, a sequência On The Beach fala sobre aqueles que ficaram para trás. Mais uma vez, a reflexão sobre o luto é o fio condutor dos eventos, contudo, explorado a partir de outras perspectivas.
Para isso, Death Stranding 2 aproveita as diferenças culturais das novas regiões e suas próprias relações com a ideia da morte. Contrastando a solenidade norte-americana, por exemplo, a cultura mexicana celebra os entes-queridos que se foram no Día de Los Muertos. Já a cultura aborígene australiana realiza períodos comunitários de luto, com danças e cerimônias tradicionais, simbolizando a união entre o corpo e a alma diante de sua relação com a natureza.
Por meio dessa nova perspectiva, Death Stranding 2 também explora o significado de luto para além da morte de um indivíduo. Há reflexões sobre a perda da identidade cultural, sobre a impossibilidade de compartilhar momentos preciosos, e até mesmo das possibilidades que nunca puderam acontecer. Contudo, essas ideias não são encaradas com um lamento, mas com um coração criativo e aberto, que olha para o futuro com esperança – e, de certo modo, com a certeza de que tudo eventualmente fica bem.
Tematicamente, a direção de arte de On The Beach apoia essa nova filosofia com bastante sensibilidade. No começo da jornada, Sam é forçado a se isolar com Lou em uma região desértica e inóspita, algo bastante contraditório para a temática de conexão do primeiro jogo. Esse contraste chega como uma grande surpresa para o jogador, que estava acostumado com colinas brevemente esverdeadas do primeiro jogo, sempre acompanhadas de chuva ou neblina.
Região em que Sam e Lou moram, em Death Stranding 2.
Enquanto o cenário do primeiro jogo sugeria alguma possibilidade de sobrevivência, especialmente com o apoio da Rede Quiral, o novo abrigo de Sam sugere o oposto – com poucas cores, em tons quase neutros. A aridez da região quase soa como um reforço para a ideia de que a permanência ali é impossível, mesmo apesar dos maiores esforços ou tecnologia. Depois de todo o esforço para reconectar a sociedade norte-americana e se tornar um herói, é estranho ver o protagonista como um pária.
No entanto, após o ataque a seu abrigo, Sam embarca em uma nova jornada na Austrália. Tematicamente, a aridez segue presente, mas com novas possibilidades e vida. Diferente do prólogo, a nova região é enfeitada de cores quentes, tons alaranjados, mas sempre acompanhados de verde. É um clima semi-desértico, mas com assentamentos dispostos a recomeçar e reconstruir, apesar das dificuldades.
Somada à perspectiva cultural, essa direção criativa adiciona um forte alicerce de resiliência humana à ideia do luto, ainda que não reduza sua tristeza. Apesar das novas regiões estarem mais povoadas com preppers e até mesmo animais silvestres, a nova jornada de Sam não se tornou menos solitária.
E sabemos disto porque, diferente da abordagem distante do primeiro jogo, Death Stranding 2 investe diretamente em Sam, suas perspectivas e seu processo pessoal. Seus sentimentos assumem o protagonismo e a subjetividade da trama, quase como se confrontasse as consequências da jornada anterior.
Por meio dessa perspectiva, vemos Sam em um novo contexto, repleto de oportunidades e de vida, mas sempre relembrado dessa tal aridez – talvez do passado ou de seu próprio processo de luto. Certa vez li que, se materializado em um objeto, seria possível dizer que o luto por alguém que se foi nunca diminui, mas a vida é que dá um jeito de crescer em seu entorno. Apesar de parecer cliché, sinto que o pensamento está bastante alinhado com a narrativa de Death Stranding 2.
Kojima e a morte do autor
Até aqui, falamos bastante sobre a ambientação de Death Stranding 2, e como ela contribui para apoiar os temas da narrativa. Ainda que seja possível interpretar a direção e intenção criativa dessa maneira, é seguro dizer que parte da experiência também acaba sendo subjetiva. Assim, cabe à própria trama, como explicitada para o jogador, transmitir seu ponto.
Tradicionalmente, Kojima costuma seguir uma estrutura própria para contar suas narrativas. Suas histórias tendem a caminhar para tons épicos, cheios de reviravoltas e longos discursos filosóficos. Por esse motivo, é comum ser bombardeado de conversas expositivas, que reforçam pontos a cada fala, para ter certeza que o jogador captou a mensagem.
Enquanto essas características funcionam bem como um elemento de gameplay, já que soam como tutoriais disfarçados na história, elas também podem criar dissonâncias. A exemplo, é possível citar o formato cinemático de Death Stranding 2, que por vezes acaba tendo sua magia quebrada por interrupções de diálogos expositivos.
Nesse contexto, por quase transpor os limites entre um jogo e um filme, tanto na construção narrativa quanto na apresentação, Kojima parece encontrar grandes barreiras na tradução de suas ideias – e embora pareça uma crítica, na verdade, é um elogio. Poucos diretores de jogos abordam suas obras dessa maneira, testando os limites que separam as duas mídias. Por outro lado, essa diferença tonal repentina pode causar estranheza aos jogadores, ainda que seja parte do charme da obra.
Se você particularmente não tem tanta paciência para esses “momentos do Kojima”, que podem envolver até mesmo a quebra da quarta parede, talvez Death Stranding 2 incomode bastante.
Assim como no primeiro jogo, há trechos que são puramente videogame, e são divertidíssimos, ainda que se distanciem da seriedade narrativa, enquanto outros são sérios e cinematográficos. Na minha experiência, até os alívios cômicos mais absurdos quase sempre foram bem-vindos, com raras exceções em que pareceram deslocados.
Para todos os efeitos, é um jogo explicitamente autêntico de Kojima, trazendo consigo referências adoradas pelo diretor, sua bagagem e conhecimento de cinema, música e seus anos na indústria de jogos. Mas ainda que o jogador não conheça nada sobre a carreira de Hideo, Death Stranding 2 é exatamente o que quer ser, enquanto também imprime a personalidade criativa de seu criador – sem receios de inovar.
O incômodo da estranheza
Por outro lado, momentos específicos da campanha me passaram bastante estranheza. Com boas dezenas de horas de jogo, estava sentindo que a história parecia segurar o próprio desenvolvimento. Como jogador, fiquei afoito para descobrir as respostas para os conflitos do prólogo, mas todo o elenco de personagens, com exceção de Sam, pareciam quase cínicos sobre sua importância. De certo modo, como se estivessem fingindo não perceber a gravidade das coisas.
Sem entrar em detalhes reveladores, os momentos que mais me causaram estranheza foram os alívios cômicos, ainda que eles tenham me arrancado risadas. Parte disso vem da percepção criada pelo clima do primeiro jogo, que é bem mais puxado para o terror, do que para a ação ou aventura – afinal, eu estava acostumado com outra atmosfera narrativa.
No entanto, comecei a perceber que os personagens também pareciam falar diretamente com os jogadores. Sugerindo, por exemplo, não revirar o passado por respostas, ou afirmando sobre a importância da mudança. Ao longo dos capítulos, percebi que era a forma do Kojima pedir “fé no processo”, assim como outros diretores grandes do cinema, e segui firme até o final.
Felizmente, as peças se encaixaram, e essas decisões se tornaram coerentes com a trama até aquele momento. Death Stranding 2 responde todas as perguntas esperadas pelos jogadores, mas de sua própria maneira. Assim como o marketing de Kojima não se preocupou em revelar tantos detalhes ou spoilers, a trama também não se preocupa com eles. Não pela falta de importância, mas porque fazem parte de um todo mais relevante, com maior significado.
Por esse motivo, algumas das relevações da trama podem até ser percebidas como óbvias, uma confirmação do esperado. No entanto, a validação do “sim ou não” se torna trivial perto do contexto, do “porquê” e do “como”.
Intencionalmente, Kojima estava contando uma lição sobre quais respostas realmente importam, e quais valem a pena. Assim como o protagonista, enquanto eu estava afoito pelas respostas, acabei não percebendo o quanto a história havia progredido, ou o quão relevante foi minha contribuição para a trama.
Com essa decisão para a narrativa, Kojima parece ter apostado mais uma vez na metalinguagem para transmitir um ponto. Há sempre algo maior acontecendo, e nem sempre somos protagonistas disso. De tudo, somos responsáveis apenas pelo que podemos fazer, e nem sempre isso parecerá suficiente – mas ainda é tudo que temos.
Death Stranding 2 é um dos jogos mais impressionantes desta geração
Falando da parte técnica, é possível ir direto ao ponto: Death Stranding 2 é um dos jogos mais impressionantes dessa geração. O nível de polimento nos visuais e na direção de áudio é perceptível desde a abertura do jogo, que traz imagens tão reais que pareciam ter saído direto do Discovery Channel ou NatGeo.
Além dos cenários detalhados, há um cuidado ímpar com a captura de movimento dos atores, algo que evoluiu consideravelmente desde o primeiro jogo. Todos os personagens do elenco principal ganharam novas camadas de detalhes, tornando sua atuação ainda mais rica em expressões.
Falando um pouco da trilha sonora, há um novo misto de artistas para acompanhar a jornada de Sam, incluindo alguns nomes conhecidos. Durante as missões, em trechos específicos, algumas faixas serão reproduzidas assim como no primeiro jogo. Porém, agora também é possível ouvir músicas à sua escolha em regiões conectadas à Rede Quiral, um recurso muito solicitado pelos jogadores.
De modo geral, as faixas escolhidas compõem muito bem a ambiência, e seguem certeiras para ditar o clima. Desta vez, há destaque para o tema “Minus Sixty One”, de Woodkid, que apresenta com muita precisão o clima épico da jornada para os jogadores. Para os fãs da trilha sonora do primeiro jogo, fiquem tranquilos: Low Roar e Silent Poets estão de volta, e certamente vão emocionar.
Kojima e Woodkid, trabalhando na produção de Death Stranding 2.
Tratando da jogabilidade, há muitas melhorias significativas em relação ao primeiro jogo. Há novas ferramentas, armas, acessórios e até peças de carro para usar. Senti que há uma excelente variedade de opções para atender os diferentes estilos de jogo, dos mais agressivos aos mais furtivos, ou um misto dos dois. A movimentação de Sam está mais fluída, assim como os veículos parecem mais estáveis – contudo, ainda é importante tomar bastante cuidado.
Vale a pena jogar Death Stranding 2?
Death Stranding 2, sem hesitar, cumpre exatamente o que se propôs a ser. É uma sequência maior, mais completa e ainda mais ambiciosa que o primeiro jogo. Agora com a confiança do público e de sua equipe, Kojima conseguiu refinar a fórmula que tornou o capítulo inicial da franquia tão cativante. A sensação gratificante de cada entrega, da colaboração entre jogadores e da evolução das regiões segue uma experiência incomparável.
Como o próprio Kojima teria afirmado, segundo o relato de Woodkid à Rolling Stone, foi necessário reescrever partes da trama por “serem boas demais” e “não polarizarem o suficiente”. Para o criador de Death Stranding 2, o que é rapidamente apreciado também é rapidamente digerido, e é algo que gostaria de evitar. Ele explica: “Quero que as pessoas acabem gostando de coisas que não gostaram quando as encontraram pela primeira vez,” afirma, “porque é aí que você realmente acaba amando algo”.
E, certamente, essa foi a impressão que Death Stranding 2 me causou assim que as últimas cenas pós-crédito acabaram. Um misto agridoce de sentimentos genuínos, que exigiu seu próprio tempo para ser digerido.
Dias depois, ainda me peguei refletindo sobre os eventos, e a conclusão da trama foi me conquistando cada vez mais. Por esse motivo, acredito que Death Stranding 2 é a obra-prima de Kojima, e será lembrado como um de seus jogos mais autênticos. Contudo, não estranhe se, assim como o primeiro jogo, sua repercussão imediata for divisiva.
Sobretudo, On The Beach é mais do que apenas a história sobre os “bastões”. Na verdade, é um aviso de que, em tempos de violência, a importância da corda se torna ainda maior e necessária. É um lembrete de que nenhuma tecnologia, apesar de sua conveniência, substitui a experiência de ser humano.
Nota do Voxel – 100
Death Stranding 2: On The Beach entrega o que promete, com um elenco de estrelas digno de Hollywood. Sua trama surpreende pela ousadia dos temas, sendo acompanhada por uma jogabilidade divertida e refinada. É uma recomendação indispensável não apenas para os fãs de Kojima, mas para todos os fãs do mundo dos jogos.
Pontos positivos
Apresentação visual e sonora que impressionam;Trama complexa e inovadora;Variedade de ferramentas permite mais estilos de jogo;Jogabilidade refinada e ainda mais divertida.
Pontos negativos
Alguns jogadores podem não curtir o ritmo da história;Alívios cômicos e estranhezas podem incomodar em alguns momentos;